CRÔNICAS FALAS CONTADAS REFLEXÃ0

ISOLAMENTO SOCIAL – SEMANA 4

A quarta semana do isolamento social vai se embrenhando numa nova rotina – trabalhando mais e normalmente, saindo somente para compras necessárias, vivendo sem grandes mudanças.

É além das minhas portas – em especial nas portas abertas da internet -, que observo alterações importantes.

Imagem do cérebro humano criada pela Dutch National Ballet para o TEDxAmsterdam, em 2011

Imagem do cérebro humano criada pela Dutch National Ballet para o TEDxAmsterdam, em 2011, para ilustrar a loucura coletiva

É nos comentários de matérias jornalísticas – um vício ler pensamentos alheios -, que percebo como as pessoas vão lidando com isso tudo: umas em negação, outras no obscurantismo, outras na loucura, tantas como eu: inconformadas com esse (des)governo patético.

Foi ontem que recebi um vídeo que dizia que o álcool gel é o vírus enganador – veja você o raciocínio espetacular: os sintomas de intoxicação por álcool gel, adivinhem? São os mesmos do Covid!!!

Leio alguém que tem certeza que o MUNDO está mentindo sobre a quantidade de mortos – como não? É infinitamente simples manipular dados desse tipo de informação global!

Mas pior mesmo foi um dos grupos da família do meu pai, no qual caí de paraquedas – já que desde a morte dele, há 22 anos, eu só tinha contato com alguns pelas redes sociais. E foi de repente, numa pergunta básica sobre a pandemia para uma prima médica (!!!) que me dei conta de estar rodeada de bolsominions fervorosos defensores desse Presidente insano. A resposta debochada e irônica, na linha “terra plana”, não foi uma completa surpresa olhando em retrospectiva, mas na hora me deu um estranhamento – porque sou uma pessoa hiper atenta, ligada em detalhes, e não reparei no tanto de pessoas tóxicas que me rondavam ali.

Como não tenho nenhuma afinidade nem paciência com “bolsonarianos” e só convivo com simpatizantes do Presidente se for estritamente inevitável – há três anos deleto sumariamente gente que se alinha a esse psicopata -, achei melhor correr pela tangente.

Pensem: eu sou ateia, defensora ferrenha da ciência, da educação e da democracia – quatro dos direitos mais desprezados por esse (des)governo que dispensa adjetivos – e isso, por si só, já me incapacitaria totalmente da possibilidade de compactuar com seus apoiadores.

Portanto, não teve jeito: tratei de usar meu direito (ainda) soberano da liberdade de não tolerar o intolerável, desejei vida longa a todos e cliquei em “sair”. Antes tarde do que nunca.

Assim, a semana quatro está marcada por um alívio que não tem nome – exceto pela queda do Mandetta. Agora é que são elas… Porque uma das coisas que mais me chateiam é não participar das decisões, mas arcar com as consequências.

Dados da ArcGis

Dentro dessa teoria, sei que para sobreviver tenho que continuar usando a hashtag #fiqueemcasa na esperança tola de que os defensores do ‘mito’ atendam a algum chamado de lucidez.

Mas num “mundo perfeito”, vou falar o que eu gostaria: que todos que discordam do agora futuro ex-Ministro seguissem Bolsonaro e FOSSEM PRAS RUAS! Eles não precisam da Rede Pública e podem pegar o vírus e se divertir em seus quartos de luxo da rede privada.

Essa elite fofa que pede comida delivery nos melhores restaurantes, não tem  a renda afetada e está enjoada de ficar em casa – imagina!, fecharam os shoppings! -, tinha mais é que se rebelar mesmo.

Eu gostaria de gritar aos quatro ventos se isso não me afetasse: VÃO PRA RUA, QUERIDOS! Devia ser obrigatório essa gente ir pra rua! Ia ser lindo ter por aqui os mesmos números de NY – olha que chique!  -, Itália, França, Espanha… Um arraso!

P.S: Ai, que cansaço dessa gente…

Débora Böttcher
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Débora Böttcher

Débora Böttcher

Formada em Letras, com especialização em Literatura Infantil e Produção de Textos. Participou do livro de coletâneas "Acaba Não, Mundo", do site "Crônica do Dia", onde escreveu por 10 anos. Publicou artigos em vários jornais. Trabalha com arte visual/mídias. Administra esse portal - que é uma junção dos sites Babel Cultural, Dieta com Sabor, Hiperbreves, Papo de Letras e Falas Contadas.