Enquanto escrevo, desponta no céu a última superlua de 2019, exatamente às 22h43 – esse fenômeno que ocorre quando a lua cheia atinge o perigeu, o ponto da órbita mais próximo da Terra -, para receber o Outono, a estação que parece ser a mais velha do tempo.
Dias de sol aberto no céu azul. O vento. As folhas que caem. A época das saudades mais puras, que nos remetem a infâncias distantes, amores perdidos e esquecidos, um tipo de memória que passeia pelas eras instigando o abandono do passado: deixar para trás aquilo que nos fere e insiste em nos magoar.
É uma contradição desta que é a época de sorrisos nostálgicos, uma espécie de temporada de silêncios internos – ainda mais nesses tempos em que tem sido difícil assimilar tantas tragédias e acasos sem sentido… Tem havido quietude por todo canto – inclusive dentro de muitas de nós.
Nesse espírito de maturidade sazonal a gente entende que envelhecer tem seus encantos – mesmo quando se percebe ante a troca de sol escaldante por um xale nos ombros.
Na calmaria dos detalhes, o outono, que no dicionário é descrito como decadência, declínio, ruína, derrocada, pode soar mais como liberdade – essa que só se pode desfrutar com real intensidade quando conquistamos a plenitude de entender que mãos entrelaçadas e companhia para compartilhar um chá, um livro, um filme, são mais relevantes do que noitadas ardentes – sem desmerecer, claro, nosso passado de corpos em brasa.
Amo o outono, essa estação que parece andar pelo caminho do meio, exatamente por isso: ele incita a um tipo de recolhimento que acalenta, mesmo que, por inexplicável razão, plante uma tristeza inquieta.
Não temos como escapar: está aberta a temporada das sombras, o tempo que pode ser de mansidão ou tormenta…
Bem-vindo, Outono! Seja paz!
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