Em cartaz nos cinemas brasileiros desde 12 de Janeiro, Manchester à Beira-Mar (Manchester by the Sea (no original)) fala das dores que o tempo não cura, não diminui nem ameniza.
Sem melodrama, reações desesperadas e pouca catarse, a trama melancólica gira em torno de Lee Chandler (Casey Affleck – que concorre ao Oscar), um homem de fala mínima e rude, que trabalha como zelador em um prédio de Boston.
Debaixo de um inverno pesado, a notícia da morte de seu irmão (Kyle Chandler), o leva de volta à pequena cidade onde viveu a vida toda, para cuidar do funeral e do sobrinho Patrick (Lucas Hedges). É ali, nesse cenário de temperaturas gélidas, que conhecemos todo o passado de Lee, em cenas bem demarcadas – flashbacks alegres contra a frieza da linha do tempo principal, delineando bem o momento em que a vida de todos mudou drasticamente.
O dramaturgo Kenneth Lonergan (de Conte Comigo e Gangues de NY), com larga experiência no teatro, conseguiu criar uma atmosfera onde a angústia passeia o tempo todo como um personagem físico, dotado de uma tristeza tão intensa que contagia e abala.
Excepcional – como já se mostrou em O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford e Medo da Verdade -, Casey Affleck usou toda sua expressão corporal para dar vida à agonia desmedida que consome seu personagem. Os olhos azuis, totalmente opacos, são o retrato mais nítido do turbilhão secreto que ele abriga.
Michelle Williams – de Sete Dias com Marilyn -, é a ex-esposa de Casey e participa de poucas sequências, mas em todas impõe uma presença intensa (bem própria de sua característica como atriz).
Com uma agonia latente, Manchester à Beira-Mar, uma narrativa sensível e de impressionante ternura, nos conta sobre a extraordinária capacidade do ser humano de sobreviver aos piores revezes, mesmo quando transformado por perdas, danos e dores insuportáveis, mas mostra também que algumas coisas não se supera nunca. É um soco no estômago.
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